"La historia de Portugal es más antigua que la historia de España; somos una nación milenaria con fronteras muy bien definidas desde el siglo XIII;" e "España tiene sus comunidades autónomas y Portugal rechazó esa posibilidad en referéndum, lo cual es una señal muy clara sobre la fortaleza de nuestra identidad étnica, lingüística y cultural. El 60% de los portugueses rechazó la regionalización de Portugal porque la consideraba un invento de los políticos." Declarações de Cavaco ao "La Vanguardia", na quinta feira.
Os meus amigos sabem que eu não nutro grande entusiasmo pelo senhor. Mas, ao dizer estas coisas em Espanha, o nosso PR esteve bem, "há que reconhecê-lo com frontalidade".
domingo, 7 de março de 2010
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Bénard da Costa
A respeito da morte de João Bénard da Costa, um leitor da notícia no site do Público (João Ferreira), de onde "roubei" a foto, publicou o comentário que incluo abaixo. Uma daquelas coisas que me deixa a pensar “tanto que eu gostava de ter escrito isto”. Quase como os livros do José Cardoso Pires.
“A notícia da morte de Bénard da Costa é uma invenção. Ele foi transferido para outra dimensão e, neste momento, prepara-se para organizar algures no paraíso um festival de cinema. Provavelmente o I Festival de Cinema do Paraíso vai abrir com uma visão do Johnny Guitar do Nick Ray. Os santos e o próprio senhor Deus andam com os cabelos em pé: não se fala noutra coisa senão de cinema e toda a gente passou a conhecer de cor os diálogos entre Johnny e Viana. Cá em baixo, dir-se-á: tinha os defeitos das qualidades: não vale a pena esconder que era obsessivo e, provavelmente, ditatorial como todas as pessoas dotadas de paixões e de obsessões. Porém, escrevia e falava como ninguém sobre o cinema e sobre isso sabia muito.”
“A notícia da morte de Bénard da Costa é uma invenção. Ele foi transferido para outra dimensão e, neste momento, prepara-se para organizar algures no paraíso um festival de cinema. Provavelmente o I Festival de Cinema do Paraíso vai abrir com uma visão do Johnny Guitar do Nick Ray. Os santos e o próprio senhor Deus andam com os cabelos em pé: não se fala noutra coisa senão de cinema e toda a gente passou a conhecer de cor os diálogos entre Johnny e Viana. Cá em baixo, dir-se-á: tinha os defeitos das qualidades: não vale a pena esconder que era obsessivo e, provavelmente, ditatorial como todas as pessoas dotadas de paixões e de obsessões. Porém, escrevia e falava como ninguém sobre o cinema e sobre isso sabia muito.”
domingo, 19 de abril de 2009
segunda-feira, 23 de março de 2009
Nos outros países os McDonald's são laicos
Os McDonald's da Grécia têm à venda por estas alturas um hamburguer sem carne (de camarão!) que dá pelo nome de "McSarakosti", qualquer coisa como "McQuaresma".
domingo, 22 de fevereiro de 2009
De regresso, outra vez
Estava a precisar de um motivo para voltar a postar, e eis que ele surgiu. Aliás, não um, mas quatro: Liedson, Derlei, Polga (grande passe no segundo golo) e Pereirinha (genial no terceiro). Mas não estaria a ser justo se me esquecesse de um outro: David Luíz. O aquecimento correu bem, vamos ver como corre o jogo, quarta feira.
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
De regresso
De volta à Grécia depois de umas merecidas (digo eu) férias em Lisboa, com acesso intermitente à internet, fico a saber que os confrontos daqui deram lugar ao terrorismo. “Happy 2009? You gotta be joking”, não é o que dizia um articulista do Financial Times?
Ainda dentro do tema, descobri a entrada na wikipedia para os confrontos na Grécia: uma fonte quase inesgotável de dados e informação, e que continua a ser enriquecida todos os dias. Um "must" para os viciados nas estatísticas, como eu. Obviamente acrescentada no meu post abaixo.
Vale também a pena ler uma das mais recentes análises do Malcolm Brabant, correspondente da BBC em Atenas, que também incluí no meu post abaixo. Um regalo, o humor subtil deste senhor.
Num registo menos “local”, deixo-vos também o link para uma selecção de algum do melhor foto-jornalismo de 2008, coligido no site do Público a partir de fotografias da Reuters. Vale mesmo a pena.
E nada melhor para rematar o primeiro post de 2009 com uma pérola do meu filho de 5 anos, depois de ser confrontado pela progenitora com a aparente contradição de querer ir para Portugal quando está na Grécia e de querer vir para a Grécia quando está em Portugal: “Mamã, eu não gosto é de estar muito tempo no mesmo sítio”.
Ainda dentro do tema, descobri a entrada na wikipedia para os confrontos na Grécia: uma fonte quase inesgotável de dados e informação, e que continua a ser enriquecida todos os dias. Um "must" para os viciados nas estatísticas, como eu. Obviamente acrescentada no meu post abaixo.
Vale também a pena ler uma das mais recentes análises do Malcolm Brabant, correspondente da BBC em Atenas, que também incluí no meu post abaixo. Um regalo, o humor subtil deste senhor.
Num registo menos “local”, deixo-vos também o link para uma selecção de algum do melhor foto-jornalismo de 2008, coligido no site do Público a partir de fotografias da Reuters. Vale mesmo a pena.
E nada melhor para rematar o primeiro post de 2009 com uma pérola do meu filho de 5 anos, depois de ser confrontado pela progenitora com a aparente contradição de querer ir para Portugal quando está na Grécia e de querer vir para a Grécia quando está em Portugal: “Mamã, eu não gosto é de estar muito tempo no mesmo sítio”.
sábado, 13 de dezembro de 2008
Grécia e Portugal: desigualdade, corrupção e falta de confiança nas instituições
Paralelamente à morte de um jovem de 15 anos às mãos da polícia grega, os “media” têm vindo a fazer eco do descontentamento sentido em camadas significativas da população que, aproveitado por elementos radicais, poderá ter contribuído para que se chegasse ao ponto em que estamos hoje na Grécia (insurreição nas ruas, manifestações em permanência, pressão para derrubar o governo de Kostas Karamanlis). Uma das razões apontadas para este descontentamento tem sido a distribuição muito assimétrica do rendimento na Grécia, ou seja, a existência de um grande fosso entre o rendimento recebido pela população de maiores recursos e aquela que menos aufere. Os dados da Comissão Europeia (“Social Situation Report 2007”, Maio 2008) confirmam efectivamente a Grécia como um dos países europeus com uma distribuição mais desigual do rendimento. Ainda assim, os valores da Grécia são ligeiramente melhores que os apresentados por Portugal. O nosso país apresenta o maior rácio da zona euro entre o rendimento recebido pelos 20% da população com maiores rendimentos e os 20% da população com menores rendimentos (clicar no quadro para aumentar):
Tem também sido referido o elevado nível de corrupção como um dos principais factores indutores de descontentamento na sociedade grega. Os dados da “Tranparency International” (“2008 Corruption Perceptions Index”, Setembro 2008) atestam a percepção da Grécia como um Estado muito afectado pela corrupção: entre 31 países europeus, a Grécia, com um índice de 4.7 num máximo de 10, só aparece à frente da Lituânia, da Polónia, da Roménia e da Bulgária. Portugal, também mal classificado, fica ainda assim na 19.ª posição, com um índice de 6.1 (clicar no quadro para aumentar):
Tem também sido referido o elevado nível de corrupção como um dos principais factores indutores de descontentamento na sociedade grega. Os dados da “Tranparency International” (“2008 Corruption Perceptions Index”, Setembro 2008) atestam a percepção da Grécia como um Estado muito afectado pela corrupção: entre 31 países europeus, a Grécia, com um índice de 4.7 num máximo de 10, só aparece à frente da Lituânia, da Polónia, da Roménia e da Bulgária. Portugal, também mal classificado, fica ainda assim na 19.ª posição, com um índice de 6.1 (clicar no quadro para aumentar):
Mas onde a Grécia fica verdadeiramente mal colocada, tanto em relação a Portugal como face ao resto da Europa Ocidental, é na confiança nas instituições, em especial nas duas que têm sido mais postas em causa nos últimos dias por aqui: a polícia e os políticos. Os dados apresentados abaixo, publicados pela GfK (“GfK Trust Index”, Agosto 2008), são particularmente reveladores. A percentagem dos inquiridos no âmbito deste estudo que diz confiar nos políticos não vai além de 13% no conjunto da Europa Ocidental e de 14% em Portugal. A mesma percentagem é, no entanto, de 9% na Grécia: o valor mais baixo de entre todos os países em análise, incluindo países da Europa central e de leste. Relativamente à confiança na polícia, os valores são particularmente dramáticos: só 42% dos inquiridos na Grécia diz confiar na sua polícia, um valor 20 pontos percentuais inferior ao 2.º pior resultado da Europa Ocidental (França), 33 pontos percentuais pior que os 75% de Portugal (mesmo valor para o total da Europa Ocidental) e apenas superior aos números apresentados pela Polónia e pela Rússia! A Grécia apresenta, de resto, valores consideravelmente inferiores à média da Europa Ocidental para os níveis de confiança em outros agentes fundamentais para o funcionamento regular da sociedade: médicos, professores, forças armadas, advogados e gestores (clicar no quadro para aumentar).
P.S.: Uma ressalva que tenho que referir aos meus colegas gregos sempre que comparo a Grécia e Portugal. A minha imparcialidade não é afectada pelo sucedido num certo Junho de 2004, em Lisboa. Pelo menos de forma consciente.
Os elevados níveis de corrupção da Grécia podem pois estar a contribuir para cristalizar uma distribuição bastante desigual do rendimento disponível. Mais: têm minado a confiança dos cidadãos no seu Estado, levando a um cepticismo generalizado e extremo face ao funcionamento das instituições. À luz destes factos, a explosão anarquista registada nos últimos dias na Grécia, detonada pela morte do jovem Alexandros Grigoropoulos, parece mais fácil de entender.
P.S.: Uma ressalva que tenho que referir aos meus colegas gregos sempre que comparo a Grécia e Portugal. A minha imparcialidade não é afectada pelo sucedido num certo Junho de 2004, em Lisboa. Pelo menos de forma consciente.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
"Ta Episodia" * [actualizado em 6 Jan. 09]
Sucursal Millennium em Iraklio, Creta. Foto da "Athens News Agency" publicada em 8 de Dezembro de 2008 no site do jornal grego "Kathimerini", com a seguinte legenda:
Para mais tarde recordar.
________________________________
Reuters
Financial Times
Portugal Diário
Rádio Renascença
Último Segundo (Brasil)
The Boston Globe (obrigado, Marta)
Informação local em inglês:
Site da rádio/televisão estatais gregas (ERT).
Site da Athens International Radio (AIR); emissão online em inglês, francês e outras línguas (não inclui português) aqui.
Agregador de notícias da ERA (rádio internacional grega) e da Athens News Agency.
Vídeo no site grego in.gr, 9 Dez. 08.
BBC:
7 Dez. 08: Greek police shooting sparks riot
7 Dez. 08: Student speaks of Greece 'carnage'
8 Dez. 08: Fresh rioting hits Greek cities
9 Dez. 08: Protests flare in Athens
9 Dez. 08: Protests as Athens funeral held
10 Dez. 08: Greek capital hit by major strike
10 Dez. o8: Greek voices: Protests and chaos
14 Dez. 08: Violent protests resume in Greece
5 Jan. o9: Greek unrest takes worrying turn
Um contributo da BBC para perceber como se chegou a este ponto: Rebellion deeply embedded in Greece
Uma outra análise cuidada da situação político-social grega pela BBC: Why Greek PM's job is safe for now
Outro artigo de "fundo" da BBC, com uma abordagem económica: Greek economy woes fuel backlash
Artigo de opinião do correspondente da BBC em Atenas, Malcolm Brabant, que destaca o papel dos jovens gregos nos incidentes
E mais um contribunto relevante do correspondente da BBC em Atenas: Riots push Greece to the edge (gosto particularmente do sentido de humor muito subtil - "typically British?" - deste senhor)
The Economist:
11 Dez. o8: The lessons of Greece's riots
11 Dez. 08: Disorder on the Hellenic street (se não pudesse ler mais do que uma análise sobre os confrontos, escolheria seguramente este artigo)
Reuters, 9 Dez. 08: Who was Greek teen whose death triggered civil unrest?
Financial Times:
9 Dez. 08: Athens haunted by spirit of student rebellion
9 Dez. 08: Greek wildfire
RTP:
7 Dez. 08 (vídeo 1)
7 Dez. 08 (vídeo 2)
9 Dez .08
10 Dez. 08
Wikipedia
* "Ta Episodia" = "Os Incidentes", expressão utilizada na Grécia para designar os acontecimentos de Dezembro de 2008.
"Καταστροφές και πορείες μαθητών σε Αθήνα και άλλες ελληνικές πόλεις - Σοβαρά επεισόδια σημειώθηκαν και στο κέντρο του Ηρακλείου κατά τη διάρκεια της διαδήλωσης που πραγματοποιήθηκε για τον αδικοχαμένο 15χρονο."
Tradução: "Destruição e manifestações de estudantes em Atenas e outras cidades gregas - foram também registados incidentes graves numa manifestação em Iraklio em memória do jovem de 15 anos morto [pela polícia]."
_______________________________
Fui recolhendo no fim deste “post” uma série de “links” para informação relacionada com os confrontos de Dezembro de 2008, aqui na Grécia. Privilegiei naturalmente a fotografia: uma vista de olhos pelo resto do blogue e percebe-se porquê; incluí também informação publicada pelos “media” gregos, com uma perspectiva mais local dos acontecimentos, ainda que me tenha forçosamente restringido às traduções para inglês, no caso dos textos; “linkei” ainda para agências e “media” internacionais de referência (BBC, The Economist, Reuters, Financial Times) que, na generalidade dos casos – e no da BBC, em particular –, cobriram com alguma profundidade os acontecimentos.
A abordagem dos “media” portugueses foi, em regra, mais superficial. Os principais órgãos de comunicação não tinham à data correspondentes na Grécia, pelo que a informação divulgada na maior parte dos casos não foi além de uns resumos meio insonsos dos “feeds” das agências internacionais. Exceptuou-se a RTP, com um enviado especial a partir do quarto dia dos confrontos. Incluí, ainda assim, os “links” nacionais que considerei mais relevantes.
Fui recolhendo no fim deste “post” uma série de “links” para informação relacionada com os confrontos de Dezembro de 2008, aqui na Grécia. Privilegiei naturalmente a fotografia: uma vista de olhos pelo resto do blogue e percebe-se porquê; incluí também informação publicada pelos “media” gregos, com uma perspectiva mais local dos acontecimentos, ainda que me tenha forçosamente restringido às traduções para inglês, no caso dos textos; “linkei” ainda para agências e “media” internacionais de referência (BBC, The Economist, Reuters, Financial Times) que, na generalidade dos casos – e no da BBC, em particular –, cobriram com alguma profundidade os acontecimentos.
A abordagem dos “media” portugueses foi, em regra, mais superficial. Os principais órgãos de comunicação não tinham à data correspondentes na Grécia, pelo que a informação divulgada na maior parte dos casos não foi além de uns resumos meio insonsos dos “feeds” das agências internacionais. Exceptuou-se a RTP, com um enviado especial a partir do quarto dia dos confrontos. Incluí, ainda assim, os “links” nacionais que considerei mais relevantes.
Acrescentei também um “link” para a entrada na Wikipedia sobre este tema: uma fonte quase inesgotável - e em crescimento - de dados e de informação.
Para mais tarde recordar.
________________________________
Fotos:
BBC2Reuters
Financial Times
Portugal Diário
Rádio Renascença
Último Segundo (Brasil)
The Boston Globe (obrigado, Marta)
Informação local em inglês:
Site da rádio/televisão estatais gregas (ERT).
Site da Athens International Radio (AIR); emissão online em inglês, francês e outras línguas (não inclui português) aqui.
Agregador de notícias da ERA (rádio internacional grega) e da Athens News Agency.
Vídeo no site grego in.gr, 9 Dez. 08.
BBC:
7 Dez. 08: Greek police shooting sparks riot
7 Dez. 08: Student speaks of Greece 'carnage'
8 Dez. 08: Fresh rioting hits Greek cities
9 Dez. 08: Protests flare in Athens
9 Dez. 08: Protests as Athens funeral held
10 Dez. 08: Greek capital hit by major strike
10 Dez. o8: Greek voices: Protests and chaos
14 Dez. 08: Violent protests resume in Greece
5 Jan. o9: Greek unrest takes worrying turn
Um contributo da BBC para perceber como se chegou a este ponto: Rebellion deeply embedded in Greece
Uma outra análise cuidada da situação político-social grega pela BBC: Why Greek PM's job is safe for now
Outro artigo de "fundo" da BBC, com uma abordagem económica: Greek economy woes fuel backlash
Artigo de opinião do correspondente da BBC em Atenas, Malcolm Brabant, que destaca o papel dos jovens gregos nos incidentes
E mais um contribunto relevante do correspondente da BBC em Atenas: Riots push Greece to the edge (gosto particularmente do sentido de humor muito subtil - "typically British?" - deste senhor)
The Economist:
11 Dez. o8: The lessons of Greece's riots
11 Dez. 08: Disorder on the Hellenic street (se não pudesse ler mais do que uma análise sobre os confrontos, escolheria seguramente este artigo)
Reuters, 9 Dez. 08: Who was Greek teen whose death triggered civil unrest?
Financial Times:
9 Dez. 08: Athens haunted by spirit of student rebellion
9 Dez. 08: Greek wildfire
RTP:
7 Dez. 08 (vídeo 1)
7 Dez. 08 (vídeo 2)
9 Dez .08
10 Dez. 08
Wikipedia
* "Ta Episodia" = "Os Incidentes", expressão utilizada na Grécia para designar os acontecimentos de Dezembro de 2008.
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
"This country takes everything too far"
Extracto do depoimento de um cidadão grego no site da BBC a propósito dos confrontos na Grécia.
"Nem mais", acrescento eu.
"Nem mais", acrescento eu.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Tem razão?
"Se os deixasse [os clientes do BPP] com as calças na mão, os títulos na imprensa internacional seriam o de que um banco português não cumpriu as suas responsabilidades. Num universo de siglas, a poucos interessaria saber se o BPP pertence à mesma galáxia que o BPI, o BCP ou o BES."
Pedro Marques Pereira, editorial do Diário Económico, 2 Dezembro 2008
Artigo completo aqui.
Pedro Marques Pereira, editorial do Diário Económico, 2 Dezembro 2008
Artigo completo aqui.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Para emoldurar
Não resisto a reproduzir este grande post do Daniel Oliveira ontem, no arrastão:
"Aos benfiquistas que ontem se divertiram: Comparando com o resultado de hoje, foi uma honra levar um banho do Barcelona."
"Aos benfiquistas que ontem se divertiram: Comparando com o resultado de hoje, foi uma honra levar um banho do Barcelona."
domingo, 23 de novembro de 2008
domingo, 16 de novembro de 2008
Combate ao crime
Mais um grande post do JHS no NQC71:
"O título de ontem de "A Bola" era: Benfica assalta 1º lugar. Ora, como se sabe, o grande segredo do combate ao crime está na prevenção..."
"O título de ontem de "A Bola" era: Benfica assalta 1º lugar. Ora, como se sabe, o grande segredo do combate ao crime está na prevenção..."
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Thanks, America
"Let us remember that if this financial crisis taught us anything, it’s that we cannot have a thriving Wall Street while Main Street suffers – in this country, we rise or fall as one nation; as one people."
"And to all those who have wondered if America’s beacon still burns as bright – tonight we proved once more that the true strength of our nation comes not from the might of our arms or the scale of our wealth, but from the enduring power of our ideals: democracy, liberty, opportunity, and unyielding hope."
Do discurso de vitória de Barack Obama.
Discurso completo aqui.
"Ou seja: afinal os europeus eram muito mais anti-Bush (...) do que anti-americanos. Foi o que a esquerda andou a dizer desde, pelo menos, a Guerra do Iraque. Tínhamos razão. Quando há razões para gostar da América, os europeus rendem-se. Eu acho normal."
No blogue do Rui Tavares.
"And to all those who have wondered if America’s beacon still burns as bright – tonight we proved once more that the true strength of our nation comes not from the might of our arms or the scale of our wealth, but from the enduring power of our ideals: democracy, liberty, opportunity, and unyielding hope."
Do discurso de vitória de Barack Obama.
Discurso completo aqui.
"Ou seja: afinal os europeus eram muito mais anti-Bush (...) do que anti-americanos. Foi o que a esquerda andou a dizer desde, pelo menos, a Guerra do Iraque. Tínhamos razão. Quando há razões para gostar da América, os europeus rendem-se. Eu acho normal."
No blogue do Rui Tavares.
Adivinha
Já está, Sporting nos 1/8 de final. Capas dos jornais desportivos portugueses de amanhã? A julgar pelas de hoje (reproduzidas acima), que até foi dia de decisões na Liga dos Campeões, essa competição exótica a que não tem acesso a equipa que se classificou em 4.o lugar no campeonato, palpita-me qualquer coisa do género:
"Diário de Aimar revela sonho de infância do craque: depois de aprender a rabona, o meu maior sonho é jogar na taça UEFA", n'o Jogo. Em rodapé: "Crise agrava-se: Vukcevic espirra e Paulo Bento não diz 'santinho'";
"Noddy vestido à benfica no bolo de anos de Aimar", no Record;
"benfica à beira de mais um momento histórico: depois da qualificação directa para a taça UEFA e do golo 5000 marcado por Suazo, aproxima-se a mítica marca dos 5001 golos", n'A Bola.
Ah, ou ainda: "Sonho esteve tão perto: Sarah Palin tinha plano para substituição da águia americana pela águia vitória nas notas de 1 dólar".
"Diário de Aimar revela sonho de infância do craque: depois de aprender a rabona, o meu maior sonho é jogar na taça UEFA", n'o Jogo. Em rodapé: "Crise agrava-se: Vukcevic espirra e Paulo Bento não diz 'santinho'";
"Noddy vestido à benfica no bolo de anos de Aimar", no Record;
"benfica à beira de mais um momento histórico: depois da qualificação directa para a taça UEFA e do golo 5000 marcado por Suazo, aproxima-se a mítica marca dos 5001 golos", n'A Bola.
Ah, ou ainda: "Sonho esteve tão perto: Sarah Palin tinha plano para substituição da águia americana pela águia vitória nas notas de 1 dólar".
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Eleições norte-americanas
Reproduzo aqui, com a devida vénia, um extracto do post de hoje do imperdível blogue NQC71:
"Não sei se já repararam que, populista, demagoga, nova-rica, pirosa, aldrabona, ignorante e manipuladora, a Sra. Palin, se fosse portuguesa, era de certeza do Benfica..."
"Não sei se já repararam que, populista, demagoga, nova-rica, pirosa, aldrabona, ignorante e manipuladora, a Sra. Palin, se fosse portuguesa, era de certeza do Benfica..."
domingo, 2 de novembro de 2008
Já adormeci cansado em tanto sítio diferente...
sábado, 1 de novembro de 2008
domingo, 26 de outubro de 2008
Desafio
A preguiça leva a que os títulos que dou às fotos que publico (tipo "Arrabaldes de Cima - Março 87") sejam de uma impressionante sensaboria, a roçar o burocrático-contabilístico. Inaceitável. Aqui vai por isso o repto: contribuam com sugestões! Não há prémio nenhum para o vencedor (para além da alteração do enfadonho título anterior, o que já não é nada mau), pelo menos até o blogue se tornar famoso.
domingo, 12 de outubro de 2008
Os 20 mil milhões em garantias aos bancos
Só os próximos dias dirão se a medida é boa ou má (e será boa se eficaz, i.e. se os bancos voltarem a financiar-se uns aos outros), mas a medida anunciada pelo ministro Teixeira dos Santos (noticiada em http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1345747) parece fazer sentido. Porquê? Há uma diferença muito relevante em relação à generalidade dos pacotes anunciados/discutidos até aqui (nacionalizações, compra pelo Estado de activos "tóxicos", e, de forma mais disparatada, encerramento de mercados de capitais e fixação de taxas de juro administrativamente): não vai contra a lógica do mercado. O Estado parece assumir, antes sim, o papel de "facilitador" do funcionamento do mercado que, dizem os manuais, a ele deve pertencer. Com uma vantagem adicional: se tudo correr bem (i.e. se não fôr necessário accionar garantias), tudo terá sido feito sem necessidade de recurso ao dinheiro dos contribuintes.
O Barreiro
A quem o Barreiro diga alguma coisa, recomendo a leitura do editorial da "Pública" de 12 Out. 2008, por Ana Gomes Ferreira, aqui reproduzido. O meu pai também foi dos que teve que procurar outro emprego quando a CUF foi morrendo aos poucos; eu também já lá não moro. Mas, no meu caso, a memória e as visitas ocasionais que ainda lá faço (pelo menos) não deixam que o Barreiro evolua "para coisa nenhuma". Serei mais novo que a autora?
"Por culpa da CUF, o meu avô Tiago enganou a minha avó Elvira. Fugido de Arouca, instalou-se, nos anos 20, no Barreiro, que prometia emprego por muitos anos, e decidiu que já podia casar. Mal conseguiu, voltou à terra e usou um truque um bocadinho mau - prometeu-lhe que a deixava ficar com a mãe doente, mas mal se apanhou casado fez-lhe a trouxa. A minha avó coseu sacas na fábrica a vida inteira, o meu avô precisou de ganhar mais dinheiro e passou para a Siderurgia. Morreu asfixiado encostado a um muro da CUF, foi passear sem a bomba da asma. O meu pai, claro, foi trabalhar para as fábricas - queria ser desenhador, talvez arquitecto, mas gostava de jogar à bola e percebeu que o que ganhava na bola o deixava casar. Conheceu a minha mãe num jogo de futebol - ele foi jogar à terra dela, e ela que raramente lá ia - trabalhava-se na ceifa e morria-se de fome - estava lá e a ver o futebol. Foram inaugurar o Bairro Alfredo da Silva. Depois as fábricas foram fechando, o meu pai ficou sem emprego, o Barreiro deixou de ser o Barreiro. Agora a CUF fez 100 anos. Que resta dela e do que significou, do maior centro industrial do país, da luta operária que lhe esteve agarrada, do modo de vida das famílias? Quase nada, ninguém se lembrou de fazer um museu a sério. A memória ainda lá está, mas por pouco tempo - ninguém se lembrou de fazer um arquivo das memórias dos operários, dizia há semanas a investigadora Ana Nunes de Almeida. Os operários vão morrendo. As famílias dispersando. Eu já lá não moro. Porque, nos meus afectos, o Barreiro evoluiu para coisa nenhuma. É difícil explicar. Mas há uma palavra, angolana, que define bem este vazio que sinto: deixaram desacontecer 80 anos de Barreiro."
"Por culpa da CUF, o meu avô Tiago enganou a minha avó Elvira. Fugido de Arouca, instalou-se, nos anos 20, no Barreiro, que prometia emprego por muitos anos, e decidiu que já podia casar. Mal conseguiu, voltou à terra e usou um truque um bocadinho mau - prometeu-lhe que a deixava ficar com a mãe doente, mas mal se apanhou casado fez-lhe a trouxa. A minha avó coseu sacas na fábrica a vida inteira, o meu avô precisou de ganhar mais dinheiro e passou para a Siderurgia. Morreu asfixiado encostado a um muro da CUF, foi passear sem a bomba da asma. O meu pai, claro, foi trabalhar para as fábricas - queria ser desenhador, talvez arquitecto, mas gostava de jogar à bola e percebeu que o que ganhava na bola o deixava casar. Conheceu a minha mãe num jogo de futebol - ele foi jogar à terra dela, e ela que raramente lá ia - trabalhava-se na ceifa e morria-se de fome - estava lá e a ver o futebol. Foram inaugurar o Bairro Alfredo da Silva. Depois as fábricas foram fechando, o meu pai ficou sem emprego, o Barreiro deixou de ser o Barreiro. Agora a CUF fez 100 anos. Que resta dela e do que significou, do maior centro industrial do país, da luta operária que lhe esteve agarrada, do modo de vida das famílias? Quase nada, ninguém se lembrou de fazer um museu a sério. A memória ainda lá está, mas por pouco tempo - ninguém se lembrou de fazer um arquivo das memórias dos operários, dizia há semanas a investigadora Ana Nunes de Almeida. Os operários vão morrendo. As famílias dispersando. Eu já lá não moro. Porque, nos meus afectos, o Barreiro evoluiu para coisa nenhuma. É difícil explicar. Mas há uma palavra, angolana, que define bem este vazio que sinto: deixaram desacontecer 80 anos de Barreiro."
sábado, 4 de outubro de 2008
E continuam vivos...
Há quem cante "Até morrer, Sporting allez" mas desate a assobiar ao primeiro passe falhado.
sábado, 27 de setembro de 2008
A Crise nos Mercados Financeiros
Tem razão, independentemente do estilo arrogantezinho do costume...
"O debate sobre a crise dos mercados financeiros tem atingido, em Portugal, níveis de histeria que só a ignorância sobre o que aconteceu permite explicar.
A tese mais comum é a seguinte: os loucos ultraliberais dos ingleses e dos americanos permitiram aos banqueiros gananciosos que inventassem sofisticados instrumentos financeiros, totalmente fora do controlo (ou da supervisão) do Estado e dos governos, e isso provocou um colapso que todos os economistas mais avisados tinham previsto.
Esta hipótese seria correcta se a supervisão e a regulação bancária fossem cegas ao que se passou, ao longo das últimas décadas, em Wall Street ou na City. Também seria correcta se as duas empresas que estão no olho do furacão, em concreto as famosas Fannie Mae e Freddie Mac, as que alimentaram o mercado hipotecário de alto risco contra todo o senso comum, fossem instituições financeiras cujas operações e lucros resultassem da especulação.
Acontece porém que estas premissas são falsas. Rotundamente falsas. E vale a pena começar por explicar o que são, ou eram, as famosas Fannie Mae e Freddie Mac. E nada melhor que, em vez de usar os acrónimos por que eram conhecidas, escrever o seu nome por extenso. Fannie Mae quer dizer Federal National Mortgage Association; Freddie Mac significa Federal Home LoanMortgage Corporation. Reparem: os nomes completos de ambas as empresas partilham duas palavras: “federal” e “mortgage”.
A presença da designação “federal” dá o primeiro indício do tipo de empresas coloque lidamos, pois “federal” nos Estados unidos é uma espécie de sinónimo de governo central. E, no caso, é exactamente isso que “federal” significa. A Fannie Mae foi criada em 1938 pelo mais “socialista” (desculpe-se a ironia) dos presidentes dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, no quadro do New Deal, o programa de apoio às classes mais desfavorecidas que criou a base de muitos dos programas sociais ainda hoje existentes. A Fannie Mae foi criada em1970, também pelo Governo de Washington e também com um objectivo social.
A função social das duas empresas é revelada pela outra palavra que partilham, “mortgage”, no fundo um sinónimo de crédito hipotecário. Em português corrente, crédito concedido com base na garantia de uma hipoteca, habitualmente a casa que esse crédito financiava. A função da Fannie Mae e da Freddie Mac era assegurarem que os bancos aceitavam conceder empréstimos a famílias de menores rendimentos para que estas pudessem comprar casa. Eram uma espécie de seguradoras públicas ou semipúblicas dos bancos comerciais que procuravam evitar que estas, por falta de garantias suficientes, concedessem crédito às famílias da classe média baixa. Ou mesmo às com menores rendimentos.
Os produtos “tóxicos” de que tanto se tem falado são sobretudo os que garantiam a solvência destas agências para-estatais. O que significa que se podemos falar da irresponsabilidade dos seus gestores, a seguir convém acrescentar que eles em Portugal seriam mais depressa gestores da Caixa Geral de Depósitos do que de um banco privado. O que significa que só por falta de informação ou distorção dos factos se pode atribuir à “ganância” do sector privado “especulativo”a culpa da actual crise. O segundo aspecto que tem sido muito distorcido radica na ideia de que a origem dos problemas está na desregulamentação e na falta de supervisão. Podemos considerar que, nos EUA, esta era e é insuficiente, mas então temos de reconhecer pelo menos duas outras verdades: primeiro, que em muitos domínios há mais regulamentação e supervisão em Wall Street do que na maior parte dos mercados europeus, Portugal incluído; depois, que o principal problema da supervisão foi a sua incompetência, não a sua inexistência.
De forma muito sintética, e apenas para ilustrar a importância de reconhecer estas duas últimas verdades, basta recordar que as regras de transparência exigidas em Wall Street são tão rigorosas que muitas empresas portuguesas já lá estiveram e saíram. É bom recordar, por exemplo, que enquanto na Bolsa de Lisboa uma instituição como o BCP pode sempre apresentar lucros milionários, quando esteve cotada em Wall Street teve de obedecer a regras contabilísticas mais apertadas em que... dava prejuízo. Curioso, não é? E estranho, se pensarmos que lá é que reina a selva e por cá domina o “avisado” e “consciencioso” braço do Estado...
Mas, mais importante do que referir as regras concretas, é bom comparar o estilo da reserva Federal Americana, o famoso Fed, incluindo no tempo do “mago” Greenspan, a forma como utilizou a manipulação das taxas de juro e a injecção de dólares nos mercados de modo a alimentar o crescimento da economia, com o estilo do Banco Central Europeu, cujos dirigentes têm resistido a todas as pressões dos governos – incluindo as do Governo português – para actuarem deforma semelhante com as taxas de juro.
O que é que aconteceu nos Estados Unidos? Ao facilitar dinheiro barato sempre que a economia arrefecia, o Fed permitiu que o consumo privado se mantivesse elevado, funcionando como motor do crescimento. Mas, ao mesmo tempo, criou estímulos para aqueles que não podiam comprassem casas que, num mercado onde o preço é determinado pela procura, subiram a preços disparatados. Porém, até porque existiam leis federais que o proibiam (algumas aprovadas pelas administrações democratas de Cárter e de Clinton), a Fannie Mae e Freddie Mac continuavam a garantir os empréstimos para que os menos endinheirados continuassem a comprar casa.
A conjugação do activismo de uma agência pública – o Fed – com o “altruísmo” imposto por lei de duas agências para-estatais está na base da “bolha imobiliária” que, quando rebentou, criou a actual crise.Não deixa pois de ser curioso verificar que o primeiro-ministro em funções na altura em que estalou a crise no BCP e que tem sido um adepto fervoroso da baixa de taxa de juros, de forma a embaratecer o preço do dinheiro, tenha ontem no Parlamento feito um discurso quase anticapitalista."
José Manuel Fernandes, editorial do Público, 25 Set. 2008
"O debate sobre a crise dos mercados financeiros tem atingido, em Portugal, níveis de histeria que só a ignorância sobre o que aconteceu permite explicar.
A tese mais comum é a seguinte: os loucos ultraliberais dos ingleses e dos americanos permitiram aos banqueiros gananciosos que inventassem sofisticados instrumentos financeiros, totalmente fora do controlo (ou da supervisão) do Estado e dos governos, e isso provocou um colapso que todos os economistas mais avisados tinham previsto.
Esta hipótese seria correcta se a supervisão e a regulação bancária fossem cegas ao que se passou, ao longo das últimas décadas, em Wall Street ou na City. Também seria correcta se as duas empresas que estão no olho do furacão, em concreto as famosas Fannie Mae e Freddie Mac, as que alimentaram o mercado hipotecário de alto risco contra todo o senso comum, fossem instituições financeiras cujas operações e lucros resultassem da especulação.
Acontece porém que estas premissas são falsas. Rotundamente falsas. E vale a pena começar por explicar o que são, ou eram, as famosas Fannie Mae e Freddie Mac. E nada melhor que, em vez de usar os acrónimos por que eram conhecidas, escrever o seu nome por extenso. Fannie Mae quer dizer Federal National Mortgage Association; Freddie Mac significa Federal Home LoanMortgage Corporation. Reparem: os nomes completos de ambas as empresas partilham duas palavras: “federal” e “mortgage”.
A presença da designação “federal” dá o primeiro indício do tipo de empresas coloque lidamos, pois “federal” nos Estados unidos é uma espécie de sinónimo de governo central. E, no caso, é exactamente isso que “federal” significa. A Fannie Mae foi criada em 1938 pelo mais “socialista” (desculpe-se a ironia) dos presidentes dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, no quadro do New Deal, o programa de apoio às classes mais desfavorecidas que criou a base de muitos dos programas sociais ainda hoje existentes. A Fannie Mae foi criada em1970, também pelo Governo de Washington e também com um objectivo social.
A função social das duas empresas é revelada pela outra palavra que partilham, “mortgage”, no fundo um sinónimo de crédito hipotecário. Em português corrente, crédito concedido com base na garantia de uma hipoteca, habitualmente a casa que esse crédito financiava. A função da Fannie Mae e da Freddie Mac era assegurarem que os bancos aceitavam conceder empréstimos a famílias de menores rendimentos para que estas pudessem comprar casa. Eram uma espécie de seguradoras públicas ou semipúblicas dos bancos comerciais que procuravam evitar que estas, por falta de garantias suficientes, concedessem crédito às famílias da classe média baixa. Ou mesmo às com menores rendimentos.
Os produtos “tóxicos” de que tanto se tem falado são sobretudo os que garantiam a solvência destas agências para-estatais. O que significa que se podemos falar da irresponsabilidade dos seus gestores, a seguir convém acrescentar que eles em Portugal seriam mais depressa gestores da Caixa Geral de Depósitos do que de um banco privado. O que significa que só por falta de informação ou distorção dos factos se pode atribuir à “ganância” do sector privado “especulativo”a culpa da actual crise. O segundo aspecto que tem sido muito distorcido radica na ideia de que a origem dos problemas está na desregulamentação e na falta de supervisão. Podemos considerar que, nos EUA, esta era e é insuficiente, mas então temos de reconhecer pelo menos duas outras verdades: primeiro, que em muitos domínios há mais regulamentação e supervisão em Wall Street do que na maior parte dos mercados europeus, Portugal incluído; depois, que o principal problema da supervisão foi a sua incompetência, não a sua inexistência.
De forma muito sintética, e apenas para ilustrar a importância de reconhecer estas duas últimas verdades, basta recordar que as regras de transparência exigidas em Wall Street são tão rigorosas que muitas empresas portuguesas já lá estiveram e saíram. É bom recordar, por exemplo, que enquanto na Bolsa de Lisboa uma instituição como o BCP pode sempre apresentar lucros milionários, quando esteve cotada em Wall Street teve de obedecer a regras contabilísticas mais apertadas em que... dava prejuízo. Curioso, não é? E estranho, se pensarmos que lá é que reina a selva e por cá domina o “avisado” e “consciencioso” braço do Estado...
Mas, mais importante do que referir as regras concretas, é bom comparar o estilo da reserva Federal Americana, o famoso Fed, incluindo no tempo do “mago” Greenspan, a forma como utilizou a manipulação das taxas de juro e a injecção de dólares nos mercados de modo a alimentar o crescimento da economia, com o estilo do Banco Central Europeu, cujos dirigentes têm resistido a todas as pressões dos governos – incluindo as do Governo português – para actuarem deforma semelhante com as taxas de juro.
O que é que aconteceu nos Estados Unidos? Ao facilitar dinheiro barato sempre que a economia arrefecia, o Fed permitiu que o consumo privado se mantivesse elevado, funcionando como motor do crescimento. Mas, ao mesmo tempo, criou estímulos para aqueles que não podiam comprassem casas que, num mercado onde o preço é determinado pela procura, subiram a preços disparatados. Porém, até porque existiam leis federais que o proibiam (algumas aprovadas pelas administrações democratas de Cárter e de Clinton), a Fannie Mae e Freddie Mac continuavam a garantir os empréstimos para que os menos endinheirados continuassem a comprar casa.
A conjugação do activismo de uma agência pública – o Fed – com o “altruísmo” imposto por lei de duas agências para-estatais está na base da “bolha imobiliária” que, quando rebentou, criou a actual crise.Não deixa pois de ser curioso verificar que o primeiro-ministro em funções na altura em que estalou a crise no BCP e que tem sido um adepto fervoroso da baixa de taxa de juros, de forma a embaratecer o preço do dinheiro, tenha ontem no Parlamento feito um discurso quase anticapitalista."
José Manuel Fernandes, editorial do Público, 25 Set. 2008
domingo, 30 de março de 2008
A noite passada
A noite passada acordei com o teu beijo
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas "sou gaivota e fui sereia"
ri-me de ti "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste
A noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo dormias lá no fundo
faltou-me o pé senti que me afundava
por entre as algas teu cabelo boiava
a lua cheia escureceu nas águas
e então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos
A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho "olá",
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste "ainda bem que voltaste"
Letra e Música: Sérgio Godinho
Álbum: Pré-histórias (1972)
descias o Douro e eu fui esperar-te ao Tejo
vinhas numa barca que não vi passar
corri pela margem até à beira do mar
até que te vi num castelo de areia
cantavas "sou gaivota e fui sereia"
ri-me de ti "então porque não voas?"
e então tu olhaste
depois sorriste
abriste a janela e voaste
A noite passada fui passear no mar
a viola irmã cuidou de me arrastar
chegado ao mar alto abriu-se em dois o mundo
olhei para baixo dormias lá no fundo
faltou-me o pé senti que me afundava
por entre as algas teu cabelo boiava
a lua cheia escureceu nas águas
e então falámos
e então dissemos
aqui vivemos muitos anos
A noite passada um paredão ruiu
pela fresta aberta o meu peito fugiu
estavas do outro lado a tricotar janelas
vias-me em segredo ao debruçar-te nelas
cheguei-me a ti disse baixinho "olá",
toquei-te no ombro e a marca ficou lá
o sol inteiro caiu entre os montes
e então olhaste
depois sorriste
disseste "ainda bem que voltaste"
Letra e Música: Sérgio Godinho
Álbum: Pré-histórias (1972)
terça-feira, 26 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
domingo, 17 de fevereiro de 2008
sábado, 16 de fevereiro de 2008
"Os sítios horríveis"
Crónica de Paulo Moura no Público de ontem:
"Numa das minhas primeiras viagens pela Europa conheci duas portuguesas, de Benfica, e pensei que fosse divertido andarmos juntos. Quando chegámos a Roma, fiquei fascinado, mas elas só diziam: "A mim, quem me tira Lisboa, tira-me tudo."
Descemos depois até Nápoles, atravessámos de barco para a Grécia, entrámos na Macedónia e, daí, dirigimo-nos à Turquia. As minhas companheiras divertiam-se, mas, depois de termos visitado Atenas, Salónica e Istambul, acabavam sempre por proferir a frase fatal: "...mas a mim, quem me tira Lisboa, tira-me tudo."
Eu também gosto de Lisboa. Gosto da luz e do caos, da água e do devaneio. Gosto de viver aqui. Mas, quando estou fora, não penso muito em Lisboa. A viagem, para mim, é uma experiência mediúnica. Serve para sair do corpo, para me transportar, não apenas para os lugares onde vou, mas para territórios verdadeiramente estrangeiros. Sítios tão estranhos, que eu próprio me torno estranho.
Não há sensação como essa. É doce, plena, luxuriosa. Embora um pouco pateta. Não há nada de transcendente em Roma, Atenas ou Istambul. Nem sequer em Bagdad, Grozni ou Cabul. Ou menos ainda nestas últimas. Quem vive lá, acha geralmente esses locais enfadonhos, ou mesmo insuportáveis. As pessoas com quem mais me identifico nos locais com que mais me identifico são as que querem fugir de lá. Como o explicar?
É duro admitir isto, mas não há qualquer relação entre a beleza dos lugares e a paixão que sentimos por eles. Ou melhor: há. O nosso fascínio é tanto maior quanto mais horrível é o sítio. É nas paragens verdadeiramente hediondas que sentimos a emoção, o enlevo, o frémito da aventura. Tal só é possível porque acreditamos nos mitos mais estúpidos. O deserto, por exemplo. Como é que nos deixámos convencer de que aquilo é interessante? No deserto só há areia e bichos, muito calor ou muito frio. Quando há humanos, há problemas. Quem lá habita não pára de se queixar. O mundo árabe é belicoso, dictatorial, discriminador das mulheres, a África é pobre, suja, doente, violenta. Até as praias tropicais, ou são miseráveis ou um inferno de turistas. Não há nenhum lugar que realmente valha a pena. E se há algum a que não falte nada, falta-nos a vontade de o visitar.
Para que sair, portanto, de casa? Mal por mal, fiquemos quietos. Amemos o que é nosso. É o que fazem os minimamente sensatos. Os muito sensatos, porém, não se dão ao luxo de serem tão passivos: viajam para confirmar que a sua terra é a melhor de todas.
Era o caso das minhas companheiras portuguesas. Percorriam os países de lés a lés, calcorreavam as cidades, e, no fim, diziam: "Gostei muito, mas a mim, quem me tira Lisboa..."
Eu não aguentava aquilo. Impedia-me de viver a minha viagem, não sei porquê. Era como querer levantar voo mas ter uma âncora no pé.
Foi em Istambul que as abandonei, e só depois consegui realmente compreender a cidade. Ou acreditar que compreendia. Percebi também que é difícil encontrar bons companheiros de viagem. Viajo quase sempre sozinho."
"Numa das minhas primeiras viagens pela Europa conheci duas portuguesas, de Benfica, e pensei que fosse divertido andarmos juntos. Quando chegámos a Roma, fiquei fascinado, mas elas só diziam: "A mim, quem me tira Lisboa, tira-me tudo."
Descemos depois até Nápoles, atravessámos de barco para a Grécia, entrámos na Macedónia e, daí, dirigimo-nos à Turquia. As minhas companheiras divertiam-se, mas, depois de termos visitado Atenas, Salónica e Istambul, acabavam sempre por proferir a frase fatal: "...mas a mim, quem me tira Lisboa, tira-me tudo."
Eu também gosto de Lisboa. Gosto da luz e do caos, da água e do devaneio. Gosto de viver aqui. Mas, quando estou fora, não penso muito em Lisboa. A viagem, para mim, é uma experiência mediúnica. Serve para sair do corpo, para me transportar, não apenas para os lugares onde vou, mas para territórios verdadeiramente estrangeiros. Sítios tão estranhos, que eu próprio me torno estranho.
Não há sensação como essa. É doce, plena, luxuriosa. Embora um pouco pateta. Não há nada de transcendente em Roma, Atenas ou Istambul. Nem sequer em Bagdad, Grozni ou Cabul. Ou menos ainda nestas últimas. Quem vive lá, acha geralmente esses locais enfadonhos, ou mesmo insuportáveis. As pessoas com quem mais me identifico nos locais com que mais me identifico são as que querem fugir de lá. Como o explicar?
É duro admitir isto, mas não há qualquer relação entre a beleza dos lugares e a paixão que sentimos por eles. Ou melhor: há. O nosso fascínio é tanto maior quanto mais horrível é o sítio. É nas paragens verdadeiramente hediondas que sentimos a emoção, o enlevo, o frémito da aventura. Tal só é possível porque acreditamos nos mitos mais estúpidos. O deserto, por exemplo. Como é que nos deixámos convencer de que aquilo é interessante? No deserto só há areia e bichos, muito calor ou muito frio. Quando há humanos, há problemas. Quem lá habita não pára de se queixar. O mundo árabe é belicoso, dictatorial, discriminador das mulheres, a África é pobre, suja, doente, violenta. Até as praias tropicais, ou são miseráveis ou um inferno de turistas. Não há nenhum lugar que realmente valha a pena. E se há algum a que não falte nada, falta-nos a vontade de o visitar.
Para que sair, portanto, de casa? Mal por mal, fiquemos quietos. Amemos o que é nosso. É o que fazem os minimamente sensatos. Os muito sensatos, porém, não se dão ao luxo de serem tão passivos: viajam para confirmar que a sua terra é a melhor de todas.
Era o caso das minhas companheiras portuguesas. Percorriam os países de lés a lés, calcorreavam as cidades, e, no fim, diziam: "Gostei muito, mas a mim, quem me tira Lisboa..."
Eu não aguentava aquilo. Impedia-me de viver a minha viagem, não sei porquê. Era como querer levantar voo mas ter uma âncora no pé.
Foi em Istambul que as abandonei, e só depois consegui realmente compreender a cidade. Ou acreditar que compreendia. Percebi também que é difícil encontrar bons companheiros de viagem. Viajo quase sempre sozinho."
José Cardoso Pires
Não é todos os dias: uma nova editora (edicoes-nelsondematos), que arranca com um livro inédito do meu escritor de eleição. Ele há notícias felizes...
Mais aqui.
Mais aqui.
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Prazeres da Paternidade
Ontem chego a casa depois de um dia de trabalho. O meu filho põe o ar mais solene do mundo e, do alto dos seus 4 anos, afirma sem pestanejar: "Papá, estou apaixonado". Engraçado, o primeiro amor, penso eu. Hoje, após uma desavença com a mãe, ameaça ir embora quando os crescidos estiverem a dormir. Para casa da pequena.
A coisa é séria.
A coisa é séria.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
terça-feira, 29 de janeiro de 2008
domingo, 27 de janeiro de 2008
Hino ao Sportinguismo
Especialmente nesta noite, vale a pena (re)ler "Irei sempre ao futebol contigo", crónica de Daniel Sampaio, publicada há uns anos na extinta revista "xis", do Público, e re-publicada no livro "Árvore sem Voz", que reúne alguns dos textos do autor. E eu a querer ter estado no estádio, com o Pedro...
“Não, é claro que irei buscar o meu Pai, o futebol tem pouco sentido sem ele. Não importa que esteja doente. Tenho trinta e cinco anos, entro na idade em que o meu Pai dizia que era preciso ter um rumo para a vida, tenho a certeza de que não o desiludi. Sou engenheiro de sistemas, nunca estive desempregado como agora acontece a tantos colegas meus, ganho bem. Tive muitas namoradas mas casei com a que amei, não era a mais bonita mas foi a única que me serenou. Tenho pena de não ter um filho rapaz, mas as meninas dão-me uma alegria enorme.
O meu Pai adoeceu há três meses. Tumor maligno do cólon, como consegui arrancar do médico. Ainda hoje sonho com o hospital: médicos apressados sem falarem connosco, enfermeiras dedicadas mas sem tempo, paredes esburacadas, pessoas a morrer ao pé de nós. O Pai parecia não sofrer, só quando perguntava pelas netas ficava mais triste. A Mãe esteve sempre ao pé, uma das coisas boas que me deram foi a tranquilidade do seu amor. A operação correu bem, disse o médico de telemóvel sempre a tocar, não consegui perguntar se o Pai podia morrer em breve, nada mais me surgia na cabeça, por isso achei melhor ser outra pessoa a falar.
Passei a vê-lo mais vezes. Dantes dizia que não tinha tempo, fingia não reparar no seu olhar um pouco crítico, arranjava desculpas para o atraso das minhas visitas. Agora é diferente, saio a correr da empresa e dou um salto à minha antiga casa. O Pai está no escritório rodeado de livros. A Mãe é que parece diferente, dantes tinha sempre coisas para fazer, arrumações, telefonemas, nestes momentos em que os procuro aparece de repente em silêncio ao pé de nós, pergunta se quero tomar alguma coisa, na verdade acho que vem apenas ver como está o Pai.
O Pai está doente, ponto final. Não quero falar disso. Nunca tinha pensado nessa hipótese, foi sempre tão enérgico, nunca o ouvi queixar-se de cansaço, nós é que nos fatigávamos só de o olhar. Agora está diferente, a sua expressão perde-se nas cadeiras do escritório, nos romances que toda a vida amou, nos velhos quadros da parede. Não pergunta nada sobre o tumor, nem sobre os filhos, só quer falar da escola das netas e dos presentes de Natal. Hoje nada consegui dizer, só me vinha à cabeça a ideia de que seria a sua última passagem de ano, tentei disfarçar mas acho que ele percebeu.
Vamos ao futebol, Pai? É claro que sim, vou-te buscar uma hora e meia antes, como sempre, nunca percebi porque queres ir tão cedo, não gostas de beber cerveja nem de comer entremeada, tenho a certeza de que é o ambiente que aprecias, os jogadores no aquecimento, os comentários dos colegas de bancada, até as castanhas que compras quase sempre. Que interessa a doença? Por acaso não consegues andar? A tua vista está afectada? O teu coração fraqueja? Claro que não, só noto em ti o tal olhar diferente, mas isso deve ser um problema meu. O médico não disse que vais ficar curado e que tudo tinha sido descoberto a tempo, num exame de rotina?
O Sporting vai ganhar, vais ver, ficas contente. Sairemos do estádio a comentar os lances, perguntarás mais uma vez, ao pé do pão quente, se não estarei com fome, desta feita sou eu que te dou boleia, não precisas preocupar-te porque não irei aos saltos no banco de trás, sou grande.
Um dia serás velhinho e partirás. Não por causa desta doença que ambos receamos, mas que vais vencer. Será apenas pela ordem natural das coisas. Quando esse dia chegar, não te preocupes à mesma, eu irei ao estádio e tenho a certeza de que, embora ninguém veja, estarás ao meu lado a comentar os golos do nosso clube.”
“Não, é claro que irei buscar o meu Pai, o futebol tem pouco sentido sem ele. Não importa que esteja doente. Tenho trinta e cinco anos, entro na idade em que o meu Pai dizia que era preciso ter um rumo para a vida, tenho a certeza de que não o desiludi. Sou engenheiro de sistemas, nunca estive desempregado como agora acontece a tantos colegas meus, ganho bem. Tive muitas namoradas mas casei com a que amei, não era a mais bonita mas foi a única que me serenou. Tenho pena de não ter um filho rapaz, mas as meninas dão-me uma alegria enorme.
O meu Pai adoeceu há três meses. Tumor maligno do cólon, como consegui arrancar do médico. Ainda hoje sonho com o hospital: médicos apressados sem falarem connosco, enfermeiras dedicadas mas sem tempo, paredes esburacadas, pessoas a morrer ao pé de nós. O Pai parecia não sofrer, só quando perguntava pelas netas ficava mais triste. A Mãe esteve sempre ao pé, uma das coisas boas que me deram foi a tranquilidade do seu amor. A operação correu bem, disse o médico de telemóvel sempre a tocar, não consegui perguntar se o Pai podia morrer em breve, nada mais me surgia na cabeça, por isso achei melhor ser outra pessoa a falar.
Passei a vê-lo mais vezes. Dantes dizia que não tinha tempo, fingia não reparar no seu olhar um pouco crítico, arranjava desculpas para o atraso das minhas visitas. Agora é diferente, saio a correr da empresa e dou um salto à minha antiga casa. O Pai está no escritório rodeado de livros. A Mãe é que parece diferente, dantes tinha sempre coisas para fazer, arrumações, telefonemas, nestes momentos em que os procuro aparece de repente em silêncio ao pé de nós, pergunta se quero tomar alguma coisa, na verdade acho que vem apenas ver como está o Pai.
O Pai está doente, ponto final. Não quero falar disso. Nunca tinha pensado nessa hipótese, foi sempre tão enérgico, nunca o ouvi queixar-se de cansaço, nós é que nos fatigávamos só de o olhar. Agora está diferente, a sua expressão perde-se nas cadeiras do escritório, nos romances que toda a vida amou, nos velhos quadros da parede. Não pergunta nada sobre o tumor, nem sobre os filhos, só quer falar da escola das netas e dos presentes de Natal. Hoje nada consegui dizer, só me vinha à cabeça a ideia de que seria a sua última passagem de ano, tentei disfarçar mas acho que ele percebeu.
Vamos ao futebol, Pai? É claro que sim, vou-te buscar uma hora e meia antes, como sempre, nunca percebi porque queres ir tão cedo, não gostas de beber cerveja nem de comer entremeada, tenho a certeza de que é o ambiente que aprecias, os jogadores no aquecimento, os comentários dos colegas de bancada, até as castanhas que compras quase sempre. Que interessa a doença? Por acaso não consegues andar? A tua vista está afectada? O teu coração fraqueja? Claro que não, só noto em ti o tal olhar diferente, mas isso deve ser um problema meu. O médico não disse que vais ficar curado e que tudo tinha sido descoberto a tempo, num exame de rotina?
O Sporting vai ganhar, vais ver, ficas contente. Sairemos do estádio a comentar os lances, perguntarás mais uma vez, ao pé do pão quente, se não estarei com fome, desta feita sou eu que te dou boleia, não precisas preocupar-te porque não irei aos saltos no banco de trás, sou grande.
Um dia serás velhinho e partirás. Não por causa desta doença que ambos receamos, mas que vais vencer. Será apenas pela ordem natural das coisas. Quando esse dia chegar, não te preocupes à mesma, eu irei ao estádio e tenho a certeza de que, embora ninguém veja, estarás ao meu lado a comentar os golos do nosso clube.”
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Felicidade
"The World Database of Happiness, in Rotterdam, collects all the available information about what makes people happy and why. According to the research, married, extroverted optimists are happier than single, pessimistic introverts, and Republicans are happier than Democrats. Nurses enjoy life more than bankers, and it helps to be religious, sexually active and a college graduate with a short commute to work. The wealthy experience more mirth than the poor, but not much. Most people say they are happy, but perhaps that is because they are expected to be."
Mais aqui.
Mais aqui.
sábado, 19 de janeiro de 2008
"Voltem, estão perdoados"
"É possível que, em grande parte, a reabilitação dos 80s se deva ao primeiro confronto de uma geração (a que estava a crescer nessa década) com o seu passado – a noção de que chegou a uma idade maior, já tem tempo de vida suficiente para poder falar de passado."
Kathleen Gomes, "ípsilon" (suplemento do Público), 18 Jan. 2008
Kathleen Gomes, "ípsilon" (suplemento do Público), 18 Jan. 2008
sábado, 12 de janeiro de 2008
Turista vs. Viajante
"Há essa velha questão sobre os turistas e os viajantes, que Garland explorou até ao enjoo em “A Praia”. Turista é alguém que só vê o que a agência de viagens preparou para ele. Desloca-se, geralmente em manada, de cliché em cliché, descobre, cheio de deslumbramento, aquilo que já estava farto de saber, vive a alucinação do que pensa ser uma aventura e regressa carregado
de episódios mesquinhos, quase sempre relacionados com a própria logística da romaria, como o incómodo de ter perdido as malas ou os contratempos da alfândega. O turista não viaja.
O verdadeiro viajante é um ser de outra espécie: ele mergulha na realidade dos lugares, convive com as pessoas autênticas, deixa-se afectar pelo que é estranho, inesperado."
Paulo Moura, in "ípsilon", suplemento do "Público". Análise ao livro "Shantaram", de Gregory Roberts, em que o autor narra a sua vida nos bairros de lata de Bombaim e numa aldeia indiana, depois de ter fugido de uma prisão australiana
11 de Janeiro de 2008
de episódios mesquinhos, quase sempre relacionados com a própria logística da romaria, como o incómodo de ter perdido as malas ou os contratempos da alfândega. O turista não viaja.
O verdadeiro viajante é um ser de outra espécie: ele mergulha na realidade dos lugares, convive com as pessoas autênticas, deixa-se afectar pelo que é estranho, inesperado."
Paulo Moura, in "ípsilon", suplemento do "Público". Análise ao livro "Shantaram", de Gregory Roberts, em que o autor narra a sua vida nos bairros de lata de Bombaim e numa aldeia indiana, depois de ter fugido de uma prisão australiana
11 de Janeiro de 2008
Horas Extraordinárias
Foi a saudade do teu braço
e o olhar que já da tua luz me dói
trabalhei sem dar pelo cansaço
horas extraordinárias, foi
um dia que passou num furacão
um furacão que se amainou, só
quando aparte o amor eu me vi só
atirando a moeda ao ar
diz-me que cara ou coroa eu vou ganhar
diz-me quanto eu fiz bem em me apostar
e que bem fiz em ter por necessárias
as horas extraordinárias
E assim que volto ao meu lugar
reencontro com dor e prazer
o coração que fiz falar
à máquina de escrever a ver
ela a dar corda à máquina de amar
e um coração a se amainar só
quando aparte o amor eu me vi só
atirando a moeda ao ar
diz-me que cara ou coroa eu vou ganhar
diz-me quanto eu fiz bem em me apostar
e que bem fiz em ter por necessárias
as horas extraordinárias
Letra e Música: Sérgio Godinho
Álbum: Coincidências (1983)
e o olhar que já da tua luz me dói
trabalhei sem dar pelo cansaço
horas extraordinárias, foi
um dia que passou num furacão
um furacão que se amainou, só
quando aparte o amor eu me vi só
atirando a moeda ao ar
diz-me que cara ou coroa eu vou ganhar
diz-me quanto eu fiz bem em me apostar
e que bem fiz em ter por necessárias
as horas extraordinárias
E assim que volto ao meu lugar
reencontro com dor e prazer
o coração que fiz falar
à máquina de escrever a ver
ela a dar corda à máquina de amar
e um coração a se amainar só
quando aparte o amor eu me vi só
atirando a moeda ao ar
diz-me que cara ou coroa eu vou ganhar
diz-me quanto eu fiz bem em me apostar
e que bem fiz em ter por necessárias
as horas extraordinárias
Letra e Música: Sérgio Godinho
Álbum: Coincidências (1983)
Subscrever:
Mensagens (Atom)