terça-feira, 29 de janeiro de 2008
domingo, 27 de janeiro de 2008
Hino ao Sportinguismo
Especialmente nesta noite, vale a pena (re)ler "Irei sempre ao futebol contigo", crónica de Daniel Sampaio, publicada há uns anos na extinta revista "xis", do Público, e re-publicada no livro "Árvore sem Voz", que reúne alguns dos textos do autor. E eu a querer ter estado no estádio, com o Pedro...
“Não, é claro que irei buscar o meu Pai, o futebol tem pouco sentido sem ele. Não importa que esteja doente. Tenho trinta e cinco anos, entro na idade em que o meu Pai dizia que era preciso ter um rumo para a vida, tenho a certeza de que não o desiludi. Sou engenheiro de sistemas, nunca estive desempregado como agora acontece a tantos colegas meus, ganho bem. Tive muitas namoradas mas casei com a que amei, não era a mais bonita mas foi a única que me serenou. Tenho pena de não ter um filho rapaz, mas as meninas dão-me uma alegria enorme.
O meu Pai adoeceu há três meses. Tumor maligno do cólon, como consegui arrancar do médico. Ainda hoje sonho com o hospital: médicos apressados sem falarem connosco, enfermeiras dedicadas mas sem tempo, paredes esburacadas, pessoas a morrer ao pé de nós. O Pai parecia não sofrer, só quando perguntava pelas netas ficava mais triste. A Mãe esteve sempre ao pé, uma das coisas boas que me deram foi a tranquilidade do seu amor. A operação correu bem, disse o médico de telemóvel sempre a tocar, não consegui perguntar se o Pai podia morrer em breve, nada mais me surgia na cabeça, por isso achei melhor ser outra pessoa a falar.
Passei a vê-lo mais vezes. Dantes dizia que não tinha tempo, fingia não reparar no seu olhar um pouco crítico, arranjava desculpas para o atraso das minhas visitas. Agora é diferente, saio a correr da empresa e dou um salto à minha antiga casa. O Pai está no escritório rodeado de livros. A Mãe é que parece diferente, dantes tinha sempre coisas para fazer, arrumações, telefonemas, nestes momentos em que os procuro aparece de repente em silêncio ao pé de nós, pergunta se quero tomar alguma coisa, na verdade acho que vem apenas ver como está o Pai.
O Pai está doente, ponto final. Não quero falar disso. Nunca tinha pensado nessa hipótese, foi sempre tão enérgico, nunca o ouvi queixar-se de cansaço, nós é que nos fatigávamos só de o olhar. Agora está diferente, a sua expressão perde-se nas cadeiras do escritório, nos romances que toda a vida amou, nos velhos quadros da parede. Não pergunta nada sobre o tumor, nem sobre os filhos, só quer falar da escola das netas e dos presentes de Natal. Hoje nada consegui dizer, só me vinha à cabeça a ideia de que seria a sua última passagem de ano, tentei disfarçar mas acho que ele percebeu.
Vamos ao futebol, Pai? É claro que sim, vou-te buscar uma hora e meia antes, como sempre, nunca percebi porque queres ir tão cedo, não gostas de beber cerveja nem de comer entremeada, tenho a certeza de que é o ambiente que aprecias, os jogadores no aquecimento, os comentários dos colegas de bancada, até as castanhas que compras quase sempre. Que interessa a doença? Por acaso não consegues andar? A tua vista está afectada? O teu coração fraqueja? Claro que não, só noto em ti o tal olhar diferente, mas isso deve ser um problema meu. O médico não disse que vais ficar curado e que tudo tinha sido descoberto a tempo, num exame de rotina?
O Sporting vai ganhar, vais ver, ficas contente. Sairemos do estádio a comentar os lances, perguntarás mais uma vez, ao pé do pão quente, se não estarei com fome, desta feita sou eu que te dou boleia, não precisas preocupar-te porque não irei aos saltos no banco de trás, sou grande.
Um dia serás velhinho e partirás. Não por causa desta doença que ambos receamos, mas que vais vencer. Será apenas pela ordem natural das coisas. Quando esse dia chegar, não te preocupes à mesma, eu irei ao estádio e tenho a certeza de que, embora ninguém veja, estarás ao meu lado a comentar os golos do nosso clube.”
“Não, é claro que irei buscar o meu Pai, o futebol tem pouco sentido sem ele. Não importa que esteja doente. Tenho trinta e cinco anos, entro na idade em que o meu Pai dizia que era preciso ter um rumo para a vida, tenho a certeza de que não o desiludi. Sou engenheiro de sistemas, nunca estive desempregado como agora acontece a tantos colegas meus, ganho bem. Tive muitas namoradas mas casei com a que amei, não era a mais bonita mas foi a única que me serenou. Tenho pena de não ter um filho rapaz, mas as meninas dão-me uma alegria enorme.
O meu Pai adoeceu há três meses. Tumor maligno do cólon, como consegui arrancar do médico. Ainda hoje sonho com o hospital: médicos apressados sem falarem connosco, enfermeiras dedicadas mas sem tempo, paredes esburacadas, pessoas a morrer ao pé de nós. O Pai parecia não sofrer, só quando perguntava pelas netas ficava mais triste. A Mãe esteve sempre ao pé, uma das coisas boas que me deram foi a tranquilidade do seu amor. A operação correu bem, disse o médico de telemóvel sempre a tocar, não consegui perguntar se o Pai podia morrer em breve, nada mais me surgia na cabeça, por isso achei melhor ser outra pessoa a falar.
Passei a vê-lo mais vezes. Dantes dizia que não tinha tempo, fingia não reparar no seu olhar um pouco crítico, arranjava desculpas para o atraso das minhas visitas. Agora é diferente, saio a correr da empresa e dou um salto à minha antiga casa. O Pai está no escritório rodeado de livros. A Mãe é que parece diferente, dantes tinha sempre coisas para fazer, arrumações, telefonemas, nestes momentos em que os procuro aparece de repente em silêncio ao pé de nós, pergunta se quero tomar alguma coisa, na verdade acho que vem apenas ver como está o Pai.
O Pai está doente, ponto final. Não quero falar disso. Nunca tinha pensado nessa hipótese, foi sempre tão enérgico, nunca o ouvi queixar-se de cansaço, nós é que nos fatigávamos só de o olhar. Agora está diferente, a sua expressão perde-se nas cadeiras do escritório, nos romances que toda a vida amou, nos velhos quadros da parede. Não pergunta nada sobre o tumor, nem sobre os filhos, só quer falar da escola das netas e dos presentes de Natal. Hoje nada consegui dizer, só me vinha à cabeça a ideia de que seria a sua última passagem de ano, tentei disfarçar mas acho que ele percebeu.
Vamos ao futebol, Pai? É claro que sim, vou-te buscar uma hora e meia antes, como sempre, nunca percebi porque queres ir tão cedo, não gostas de beber cerveja nem de comer entremeada, tenho a certeza de que é o ambiente que aprecias, os jogadores no aquecimento, os comentários dos colegas de bancada, até as castanhas que compras quase sempre. Que interessa a doença? Por acaso não consegues andar? A tua vista está afectada? O teu coração fraqueja? Claro que não, só noto em ti o tal olhar diferente, mas isso deve ser um problema meu. O médico não disse que vais ficar curado e que tudo tinha sido descoberto a tempo, num exame de rotina?
O Sporting vai ganhar, vais ver, ficas contente. Sairemos do estádio a comentar os lances, perguntarás mais uma vez, ao pé do pão quente, se não estarei com fome, desta feita sou eu que te dou boleia, não precisas preocupar-te porque não irei aos saltos no banco de trás, sou grande.
Um dia serás velhinho e partirás. Não por causa desta doença que ambos receamos, mas que vais vencer. Será apenas pela ordem natural das coisas. Quando esse dia chegar, não te preocupes à mesma, eu irei ao estádio e tenho a certeza de que, embora ninguém veja, estarás ao meu lado a comentar os golos do nosso clube.”
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
Felicidade
"The World Database of Happiness, in Rotterdam, collects all the available information about what makes people happy and why. According to the research, married, extroverted optimists are happier than single, pessimistic introverts, and Republicans are happier than Democrats. Nurses enjoy life more than bankers, and it helps to be religious, sexually active and a college graduate with a short commute to work. The wealthy experience more mirth than the poor, but not much. Most people say they are happy, but perhaps that is because they are expected to be."
Mais aqui.
Mais aqui.
sábado, 19 de janeiro de 2008
"Voltem, estão perdoados"
"É possível que, em grande parte, a reabilitação dos 80s se deva ao primeiro confronto de uma geração (a que estava a crescer nessa década) com o seu passado – a noção de que chegou a uma idade maior, já tem tempo de vida suficiente para poder falar de passado."
Kathleen Gomes, "ípsilon" (suplemento do Público), 18 Jan. 2008
Kathleen Gomes, "ípsilon" (suplemento do Público), 18 Jan. 2008
sábado, 12 de janeiro de 2008
Turista vs. Viajante
"Há essa velha questão sobre os turistas e os viajantes, que Garland explorou até ao enjoo em “A Praia”. Turista é alguém que só vê o que a agência de viagens preparou para ele. Desloca-se, geralmente em manada, de cliché em cliché, descobre, cheio de deslumbramento, aquilo que já estava farto de saber, vive a alucinação do que pensa ser uma aventura e regressa carregado
de episódios mesquinhos, quase sempre relacionados com a própria logística da romaria, como o incómodo de ter perdido as malas ou os contratempos da alfândega. O turista não viaja.
O verdadeiro viajante é um ser de outra espécie: ele mergulha na realidade dos lugares, convive com as pessoas autênticas, deixa-se afectar pelo que é estranho, inesperado."
Paulo Moura, in "ípsilon", suplemento do "Público". Análise ao livro "Shantaram", de Gregory Roberts, em que o autor narra a sua vida nos bairros de lata de Bombaim e numa aldeia indiana, depois de ter fugido de uma prisão australiana
11 de Janeiro de 2008
de episódios mesquinhos, quase sempre relacionados com a própria logística da romaria, como o incómodo de ter perdido as malas ou os contratempos da alfândega. O turista não viaja.
O verdadeiro viajante é um ser de outra espécie: ele mergulha na realidade dos lugares, convive com as pessoas autênticas, deixa-se afectar pelo que é estranho, inesperado."
Paulo Moura, in "ípsilon", suplemento do "Público". Análise ao livro "Shantaram", de Gregory Roberts, em que o autor narra a sua vida nos bairros de lata de Bombaim e numa aldeia indiana, depois de ter fugido de uma prisão australiana
11 de Janeiro de 2008
Horas Extraordinárias
Foi a saudade do teu braço
e o olhar que já da tua luz me dói
trabalhei sem dar pelo cansaço
horas extraordinárias, foi
um dia que passou num furacão
um furacão que se amainou, só
quando aparte o amor eu me vi só
atirando a moeda ao ar
diz-me que cara ou coroa eu vou ganhar
diz-me quanto eu fiz bem em me apostar
e que bem fiz em ter por necessárias
as horas extraordinárias
E assim que volto ao meu lugar
reencontro com dor e prazer
o coração que fiz falar
à máquina de escrever a ver
ela a dar corda à máquina de amar
e um coração a se amainar só
quando aparte o amor eu me vi só
atirando a moeda ao ar
diz-me que cara ou coroa eu vou ganhar
diz-me quanto eu fiz bem em me apostar
e que bem fiz em ter por necessárias
as horas extraordinárias
Letra e Música: Sérgio Godinho
Álbum: Coincidências (1983)
e o olhar que já da tua luz me dói
trabalhei sem dar pelo cansaço
horas extraordinárias, foi
um dia que passou num furacão
um furacão que se amainou, só
quando aparte o amor eu me vi só
atirando a moeda ao ar
diz-me que cara ou coroa eu vou ganhar
diz-me quanto eu fiz bem em me apostar
e que bem fiz em ter por necessárias
as horas extraordinárias
E assim que volto ao meu lugar
reencontro com dor e prazer
o coração que fiz falar
à máquina de escrever a ver
ela a dar corda à máquina de amar
e um coração a se amainar só
quando aparte o amor eu me vi só
atirando a moeda ao ar
diz-me que cara ou coroa eu vou ganhar
diz-me quanto eu fiz bem em me apostar
e que bem fiz em ter por necessárias
as horas extraordinárias
Letra e Música: Sérgio Godinho
Álbum: Coincidências (1983)
Subscrever:
Mensagens (Atom)